sexta-feira, 16 de março de 2012

Palavras com rio...

Partilhavam confidências na beira do rio, as suas tardes eram tranquilas como o curso calmo das águas que os envolviam... Nos dias de calor mergulhavam nus naquele rio que conheciam tão bem, as tardes passadas ali eram tão agradáveis, faziam-nos esquecer as vidas cansativas e monótonas que tinham, o rio contava-lhes histórias que iam e vinham, ao sabor da corrente... Quase ninguém conhecia aquele sítio e eles mantinham-no em segredo, queriam continuar a ser os únicos exploradores daquelas margens onde se escondia um tesouro. Em crianças, tinham inventado uma história que contava que numa das margens do rio existia um tesouro escondido, enquanto cresciam, foram acreditando que a história, outrora inventada, afinal era real...
Naquele dia porém, não estavam sozinhos... Tinham acabado de se despir e mergulhar no rio, entre gargalhadas e conversas, os gritos e os ecos, a competição e as lutas, afinal voltavam a ser meninos a brincar, cada vez que mergulhavam no rio... Elas, chegaram sem que se apercebessem, observavam-nos da outra margem, não eram daquelas paragens, eram raparigas da cidade, notava-se pela forma descontraída das roupas, a rebeldia inerente, exploradoras também dos recantos da terra, raparigas destemidas, mas que não conseguiam disfarçar os risinhos nervosos de quem apanhou ou foi apanhado, desprevenido, fingiam fotografá-los nus, para os intimidar e riam da sua reacção envergonhada, eles nadavam para a margem com vigor, fugiam da câmara desligada, que não era mais que um adereço da brincadeira que elas tinham iniciado, mas eles não sabiam... Vestiram-se rapidamente e depois de se sentarem, acenaram-lhes e sorriram, elas responderam e foram embora a correr e a rir alegremente... 
Eles ficaram calados um tempo até as deixarem de ouvir, ficaram de novo com o silêncio sagrado e com as suas conversas lentas e bem dispostas. Mas hoje, tinham uma nova história para contar no café aos amigos, começavam por dizer que tinham conhecido umas moças da cidade, depois relatavam pormenores que não tinham acontecido mas que tornavam a história mais apelativa, como se tinham divertido juntos, como elas quase se tinham afogado no rio e eles heroicamente mergulharam para as salvar, depois acrescentavam mais alguns detalhes que haviam de compor a narrativa. 
A história, essa, seria falada e contada na terra, tantas vezes e durante tanto tempo, que se tornaria real, tal como o seu tesouro perdido... E assim deslizavam os dias, felizes e tranquilos rio abaixo...

4 comentários:

  1. :) sem querer, fizeste me relembrar coisas tão boas...Obrigada!

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  2. Fizeste-me recordar velhos tempos...junto ao rio...bons e velhos tempos! Mto bom;)

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  3. Só posso dizer que acho que escreves pralá de bem. Belíssima short story, Nela!

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