segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Palavras com Amanhecer...

Amanheço desajustada num tempo de recomeços tardios que não tardam. No barulho das horas rápidas de vultos com pressa de fugir deles mesmos, abrando e tento ouvir o que não ousam dizer em voz alta. Falam do medo... 
Falam do amor e da falta dele, dos bloqueios em que se afogam, de solidão... 
Falam da imensidão da falta de tudo...
Atropelam-se nas suas vozes roucas de quem quer ser ouvido, sem se ouvirem sequer por um instante.
Renunciam ao silêncio. 

Gritam alto sobre coisa nenhuma, esvaziando de sentido os sons da verdade, interdita aos que ousam ouvir-se. 
Omitem que apenas precisam de ser. Ser o que são. Ser. Simplemente, ser.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Palavras com Mar...

Lembro-me do Mar que se fazia distância, aproximando os incautos pescadores do abismo da sorte, levando-os pela mão ao início da Morte.
Lembro-me de morrer sem saber se vivi, se escolhi assim, ou se me esqueci.
Lembro-me de dias cinzentos e de lançar o anzol, numa espera fortuita de um beijo do sol.
Lembro-me de sons de cristal e de peixes vorazes por gotas de sal.
Lembro-me das forças contrárias, destinadas a destinar e de destinos perdidos e por encontrar.
Lembro-me do que me lembro, sem ter saído daqui.
Lembro-me do que esqueci, no dia em que morri...